Existem aquários fáceis de fotografar. Um aquário de propósito decorativo, corretamente iluminado, com peixes pacatos e manutenção em dia pode ser muito simples de registrar em imagem, um aquário com o vidro sujo, pouca iluminação, peixes inquietos e rápidos irá oferecer grande dificuldade.
Trabalhando com o reflexo
Quando você tenta ver através de um vidro qualquer que faz reflexo, o que você faz? Se aproxima do vidro, obviamente. Tem gente que chega a colocar as mãos em torno do rosto para evitar a luminosidade e assim ver melhor. Na câmera podemos utilizar o mesmo artifício. Não adianta tentar tirar fotos de longe, apenas “dando zoom”, em uma situação assim, utilizar a câmera bem próxima ao vidro e um para-sol irá melhorar muito a captura, reduzindo drasticamente os reflexos.
Aproximando-se muito a câmera do aquário podemos não conseguir focalizar corretamente o assunto desejado. Câmeras portáteis costumam ter um “modo macro” que possibilita grande aproximação, lentes profissionais possuem uma distância mínima de focagem, sendo necessário utilizar uma lente macro caso queira maior aproximação ou utilizar um filtro close-up. Consulte o manual da sua câmera ou sua lente para saber qual o limite de aproximação antes de ser impossível focalizar corretamente.
Iluminação deficiente
A iluminação será um fator decisivo, aquários mal iluminados apresentarão dificuldade imensa na captura de uma imagem boa e não é sempre que você dispõe de equipamento adequado para realizar uma correção na iluminação – se você não é um profissional ou está visitando alguma loja ou exposição, deverá dar conta da situação.
Para captar imagens com pouca luz, sem uso de flash, existem algumas possibilidades. A primeira é utilizar uma lente clara, ou lente rápida, como é conhecida por muitos. A lente clara possibilita grande abertura de diafragma – é como nosso olho, quando está escuro nossa íris se abre mais para que a luz entre. A segunda possibilidade é aumentar o ISO. Em termos químicos, aumenta-se a sensibilidade da película fotográfica, sob pena de granulação da imagem em algumas situações. Câmeras digitais permitem a troca de ISO de forma relativamente simples e muitas conseguem obter bons resultados em ISO extremamente alto. A terceira e última alternativa é a captura lenta, ou seja, manter o obturador da câmera aberto durante um longo período, o que não é muito conveniente em um aquário, onde os peixes, plantas e a própria água está em constante movimento.
Das alternativas citadas anteriormente a única de baixo custo é o aumento de ISO, visto que lentes claras são caras – quanto mais clara, mais cara, já a longa exposição é inviável em um aquário convencional. Câmeras portáteis amadoras não possibilitam qualidade aceitável em ISO alto e não possuem grande abertura, o que começa a traçar as necessidades do fotógrafo que deseja obter melhores imagens, obrigando-o a investir em equipamento.
Peixes lentos e peixes rápidos
Não se fotografa da mesma forma um Acará Disco e um Yellow Tang, vocês já devem ter percebido na prática. O Disco costuma se movimentar de forma lenta e previsível, o Tang corre por todo o aquário, se esconde, muda de direção “sem avisar”.
Para fotografar peixes lentos basta realizar a regulagem do equipamento, “mirar” o peixe e obter a imagem. É bem simples, permite até arriscar tempo de exposição maior.
Para fotografar peixes rápidos temos várias opções, enumeremos algumas. Uma opção é a captura contínua – deixar a câmera “tirando fotos”, outra é acompanhar o movimento do peixe, durante a captura. Existem técnicas de fotografia científica onde a captura de imagens de alta velocidade se faz necessária, mas não convém citar pois muitas envolvem sensores, preparo de cenário, além de equipamentos caros e precisos, então vamos nos ater no simples, no factível em uma visita a uma loja.
A captura contínua é uma boa opção, especialmente se aliada ao autofoco. Regula-se o equipamento e segue-se o peixe, obtendo imagens sequenciais e ao final escolhendo-se a melhor. O grande problema é que câmeras que capturam muitas imagens por segundo são mais caras, especialmente se forem câmeras semi-profissionais ou profissionais.
Vamos explorar melhor a idéia da captura contínua. Temos um aquário com Acarás Bandeira, que são especialmente briguentos quando estão em período fértil. Ao atravessar o aquário para agredir outro peixe, observei que o agressor leva dois segundos para transpor um metro, ou seja, ele atinge meio metro por segundo. Se a minha câmera captura 4,5 imagens por segundo (em condições ideais) e que eu enquadre corretamente o metro por onde o peixe irá nadar, na primeira foto o peixe estará no início da imagem, avançando 11 centímetros a cada nova foto, e conseguirei registar apenas 4 imagens, a minha chance de obter uma boa imagem é quase nula, pois as imagens das “bordas” dificilmente serão utilizáveis, restando apenas as duas imagens centrais para uma escolha. Se fosse um esporte, seria a diferença de capturar o momento exato de um gol esplêndido ou de uma manobra radical, que não pode ser repetida ao desejo do fotógrafo.
Quando assistimos uma corrida de carros, observamos que a câmera segue o movimento do carro, presa sobre um tripé que estabiliza sua movimentação. A imagem obtida invariavelmente é rica em movimento, dando a sensação de que estamos realmente seguindo o carro com os olhos. Podemos obter imagens muito interessantes deslocando a câmera enquanto tiramos a foto, a idéia é acompanhar o movimento, como num binóculo, e capturar a imagem quando nosso corpo estiver em movimento síncrono com o equipamento e o assunto se movendo. Exige um pouco de treino e uma câmera que registre fotos de forma rápida. Como adicional, podemos ganhar um fundo borrado, dando a idéia de movimento, assim como acontece com as fotos automobilísticas.
Juntando a captura contínua com a movimentação da câmera aumentamos nossas chances de obter boas imagens, pois aumentamos nosso enquadramento de forma virtual e podemos centralizar o assunto.
Devemos lembrar que captura de movimentos rápidos não combina com longa exposição, você não conseguirá estabilizar o movimento e a captura inevitavelmente borrará.
O uso do flash para congelar a imagem é muito interessante, mas não acredito ser uma opção viável pois a luz emitida é muito forte, podendo até prejudicar os peixes. Com sistemas de flash mais aprimorados podemos começar a considerar seu uso, mas dificilmente aquele flash básico embutido no corpo da câmera fará algo mais que irritar os animais e o dono do aquário.
Profundidade de campo
O famoso “fundo desfocado”, ou bokeh, como é conhecido no meio, é muito atraente, mas pode se virar contra você se mal utilizado. Bonita é uma imagem de uma flor em meio ao campo desfocado, mas ter meio peixe em foco e meio desfocado não é o resultado desejado na maior parte das vezes. Regule a abertura da lente de forma que o assunto permaneça em foco, não é porquê você tem uma lente clara que vai utilizá-la sempre na máxima abertura.
Correção de branco
Um dos fundamentos da boa captura de imagem digital é a correção de branco, mas ela é especialmente importante na obtenção de fotos de aquários, onde a iluminação artificial pode criar cores falsas e sem graça. Realize sempre a correção de branco e se possível regule o contraste e saturação. Aquários são ambientes coloridos, um pouco de saturação de cores irá criar uma imagem mais atraente, mas não exagere.
Conclusões
Ao visitar lojas, tenha sempre em mãos sua câmera. Diversas situações te levarão a obter prática e técnica necessária para obter boas imagens. Na hora de trocar seu equipamento, procure pelo melhor para você e não pelo item da moda, que poderá te decepcionar. Invista em lentes, se desprenda de qual “corpo de câmera” você tem. Compre sempre a melhor lente que seu dinheiro pode pagar, mas não caia na besteira de se entulhar de lentes à toa – tenha apenas as necessárias, cobrindo diversas distâncias focais, tentando evitar repetições, não gaste dinheiro à toa.
Antes de fotografar um aquário lembre-se de pensar, analisar, estudar. Os resultados serão satisfatórios e animadores.